18 MAIO CRÍTICA SÉRGIO KIRDZIEJ
Esta nova fornada de trabalho de Maria Helena Saparolli revela em relação à fornada anterior uma maior ousadia composicional. Antes a artista procurava apenas os efeitos da aglomeração simples dos elementos modulares. Agora propõe novas aglomerações experimentais, qual demiurgo observando em seguida sua evolução natural, controla, limita e redesenha seus desenvolvimentos. É um exercício de vontade estética do criador sobre o que seria a brotação desordenada de colônias de fungos cerâmicos.
Nesta nova fase há também a presença das contra-formas, isto é, as marcas em negativo, as pegadas no barro, ou se quisermos, as fôrmas que geraram as peças modulares, como que atestando a industriosidade da produção. Todo o processo gerador das formas está ali, didaticamente representado. As contra-formas, esticadas em lâminas, ficam ali expondo a porção dialética até agora oclusa da síntese que é o processo-obra total.
Atentando para esta mitopoese plástica, percebemos que a artista, munida de suas peças, oscila entre duas tendências diversas: por um lado suas montagens levam ao efeito meditativo dos jardins zen japoneses, com seus sulcos na areia, seus agrupamentos de seixos, e por outro, bem oposto, lembram a solidez geométrica de algumas composições concretistas – miniaturas naturalistas de um Sério Camargo. Contradição? Talvez, mas lembremo-nos de que a arte é onívora, e se alimentará até suas próprias contradições ao buscar uma solução estética.
Sérgio Kirdziej maio/ 1997