06 MAIO A “DONA” DOS AZULEJOS DE POTY
Responsável junto com Elvo Damos por executar murais e restaurações de obras públicas de Poty Lazzarotto, Maria Helena Saparolli acaba de realizar mais uma obra do muralista
“Parece fácil, não é?”, indaga a ceramista Maria Helena Saparolli, enquanto molda flores de argila líquida com ajuda dos utensílios de cozinha minuciosamente organizados em seu ateliê no bairro Abranches. Esse é apenas um dos inúmeros trabalhos que ela toca ao mesmo tempo. Agora com mais tranquilidade, já que ela começou 2014 com uma das principais “missões” de 2013 cumpridas: terminar mais uma execução de um painel de Poty Lazzarotto.
Intitulado São Lucas 1, o desenho foi trabalhado por ela e pelo fiel escudeiro, o escultor Elvo Damos – os dois são os únicos autorizados pela família Lazzarotto, desde 2002, a montar os painéis de Poty. No caso da clínica médica que encomendou o trabalho (um painel de cerca de 3 metros de dimensão), os proprietários já tinham a gravura do artista, um desenho com o padroeiro dos médicos, de 1998. Entretanto, qualquer mural, seja em espaço público ou privado, é construído apenas com autorização de João Lazzarotto, irmão de Poty.
Na hora de reproduzir os traços de Poty no azulejo, Maria Helena e Damos encaram um processo detalhado. “Procuramos ter o maior respeito para chegar na linha e nos traços dele. Com o original em mãos, discutimos como vamos lidar com o esmalte e a cerâmica”, conta a artista. São vários testes até conseguir as cores exatas – função que, geralmente, fica a cargo de Maria Helena. Damos costuma trabalhar nos traços e linhas para depois, juntos, partirem para os desenhos na cerâmica.
Domínio do processo
No caso do painel com a figura do santo, para formar a figura original do desenho foram pintados vários azulejos de 20 por 20 centímetros. “Você faz ele todo dividido e, depois, os desenhos vão para o forno a 800 graus. É preciso dominar todo o processo para chegar ao resultado”, diz a ceramista, que já passou por alguns “perrengues” com Damos – como o de fazer os azulejos amarelos do Museu Oscar Niemeyer (MON). “Tivemos apenas 45 dias, foi uma correria.”
Tesouros
Maria Helena formou-se em Educação Artística na Faculdade de Artes do Paraná (FAP), com habilitação em Artes Plásticas, e começou a atuar na área em 1989. Esposa de um médico, mãe de três filhos, também médicos, costuma dizer que ela é a única “certa” da família. “Meus filhos dizem que eu tenho um parafuso a menos, mas acho que é o contrário”, conclui, rindo.
Até o fim de 2012, a artista atuava no Ateliê de Escultura da Fundação Cultural de Curitiba (FCC). Agora aposentada, pode se dedicar exclusivamente ao trabalho autoral e a vários projetos paralelos – o mais recente foram flores de cerâmica que estão em um “jardim” artístico diante do MON, criado com trabalhos de outros 80 artistas.
Tanto os painéis quanto suas novas criações são executadas por horas a fio no ateliê, repleto de obras da artista e de parafernálias necessárias à cerâmica, como os grandes fornos para queima do material. O seu mais novo “brinquedo” é um forno importado dos Estados Unidos, prateado com vermelho, que ela comprou há um ano. “Brinco que o forno é a minha Ferrari. Chega a 1.290 graus de temperatura, nem a cinza sobra”, relata Maria Helena, que vê a cerâmica como algo quase sagrado. “É uma transmutação. Quando o material passa pela queima, é algo mágico, sempre tem o desafio e a apreensão de que, às vezes, estará tudo grudado e não dará certo. Esse hiato quente me atrai. É preciso muito cuidado”, filosofa.
Reportagem: Isadora Rupp
Data: 12/01/2014
Fonte: Gazeta do Povo